As notas afinadas e ritmadas do piano vinham na ponta-dos-pés até o lado de fora da igreja, até escorrerem em música nos ouvidos de Janelly.
À sua volta não se ouviam pássaros cantando, nem mesmo os sons de pessoas correndo contra o tempo para chegar em casa depois de uma semana cheia de horas, minutos e segundos com relógios, cronômetros e calendários.
O dia está bem frio. As extremidades dos dedos e do nariz ficaram geladas com a brisa leve e úmida que nem chega a mexer as árvores. Mas havia algo no ar daquele lugar que dava vida aos pássaros quietos em seus ninhos e às árvores imóveis na sua terra.
Era a harmonia da música. O calor das notas graves do piano com a delicadeza das notas agudas gerava o silêncio da natureza em respeito a uma das mais belas criações do Verbo.
Devagar Janelly foi andando até à grande porta de madeira entalhada que deixava a música e o silêncio das palavras que saiam do piano chegar até o mundo dos que não às apreciavam, de quem não entendia as palavras do Verbo.
Os últimos fios de luz do pôr-do-sol projetavam-se através dos vitrais de cores vivas até o corredor central, onde Janelly passo-a-passo acompanhava a música que embalava seu coração até descansar calmamente nos braços do Pai.
O ritmo da música foi levando os pés de Janelly a girar e se alegrar orbitando as cores da luz no chão até estar em volta pela harmonia do piano.
De repente, não estava mais no mesmo lugar de antes. O que antes fora um corredor, agora era um caminho coberto de relva que dançava sem o vento, apenas pela música que fazia Janelly dançar com ela. O que antes foram vitrais, agora são nuvens das mais diferentes cores que emolduram o céu do pôr-do-sol, que se estende e perde de vista o horizonte.
De repente, talvez tudo aquilo fosse um sonho. Não importa, apenas não queria acordar.
À sua frente estava uma grande árvore, viva, que emanava paz e de onde vinha a música que limpava o coração de Janelly e que trazia esta alegria até seu rosto.
Correu para a árvore instintivamente. Abaixo dela, havia um balanço que devia estar ali há muito tempo. Estava coberto por trepadeiras nas cordas e não parecia muito seguro, mas a árvore a qual estava presa não deixava as cordas se arrebentarem tão facilmente.
Era a liberdade do vento no rosto de Janelly que a alegrava e lhe dava o entendimento de que a vida era como aquele balanço, mesmo velho e a pouco tempo de arrebentar, a árvore a segurava e a protegia do mundo a sua volta.
Janelly forçou ao máximo para se balançar. Não importava se aquilo fosse um sonho, ou se o balanço poderia arrebentar a qualquer momento, importava que aquilo era real, a alegria, a paz e a vida são realidade, existem e estavam presente nela agora.
O balanço foi cada vez mais alto e mais forte, até que não era ela que se balançava, era o Verbo que estava com ela e a balançava o mais alto possível, no ritmo da música e na cor do pôr-do-sol que estava na alegria e no contentamento de Janelly.
Se aquilo fosse um sonho, já poderia acabar, mas Janelly duvidava disso porque era muito real para ser apenas um devaneio.
Se o balanço deveria arrebentar, já poderia, e Janelly não duvidava disto, uma hora ou outra arrebentaria, mas uma coisa ela sabia: o Verbo estaria ali para levantá-la quando caísse.
Rebeca Lessmann
Fonte: Palavra por Palavra
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